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Os riscos do uso do álcool para as crianças no combate ao Coronavírus

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O álcool é um produto muito utilizado no dia a dia das famílias brasileiras. Sua utilidade vai desde desinfecção até o uso como desodorante e controle de pragas. Contudo, esse produto é altamente inflamável, o que o torna extremamente perigoso. Anualmente, milhares de pessoas, incluindo crianças, são vítimas de queimaduras provocadas por acidentes com álcool no Brasil.

De acordo com a presidente do Instituto de Políticas e Atenção em Queimaduras (IPAQ) e chefe da Unidade de Tratamento Intensivo em Queimaduras, Dra. Elaine Tacla, a gravidade da queimadura depende, de forma geral, de três fatores: tempo de exposição ao agente térmico, temperatura e espessura da pele. “Quanto mais tempo a pessoa fica em contato com a fonte de calor, quanto maior for a temperatura e quanto mais fina for a pele, maior será a gravidade da queimadura”, explica a Dra.

Foi pensando em mitigar a quantidade desses acidentes que, em 2002, a Criança Segura, juntamente com outras entidades, conseguiram com que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) determinasse – na Resolução RDC nº 46 – que o álcool etílico com graduações acima de 54º GL, à temperatura de 20° C, poderia ser comercializado unicamente na forma de gel, no volume máximo de 500 gramas e em embalagens resistentes a impactos.

Com essa resolução, o acesso à compra do álcool etílico 70°, produto altamente inflamável que causa explosões quando em contato com chamas, foi restringido. Mesmo com essa restrição, as queimaduras continuam sendo a segunda maior causa de hospitalizações de crianças de 0 a 14 anos no país. Só em 2019 quase 21 mil crianças foram internadas por esse motivo.

“As crianças têm corpos mais frágeis que os de adultos, por estarem em desenvolvimento. Uma das características mais marcantes é, justamente, a pele ser mais fina e delicada. Isso significa que as queimaduras nelas são mais profundas, dolorosas e graves”, alerta a Dra. Elaine Tacla.

Em março deste ano – quase 20 anos depois da aprovação da RDC nº46 –, diante do aumento do número de casos de COVID-19 no Brasil, a Anvisa revogou essa resolução por 180 dias. O que significa que o álcool etílico líquido 70° pode ser vendido em mercados, lojas de conveniência e qualquer outro tipo de comércio que queira vender o produto.

Na quarentena, as pessoas estão passando mais tempo dentro de casa, principalmente as crianças. Com a comercialização livre do álcool etílico líquido 70°, muitas pessoas terão fácil acesso a esse produto e, nesse cenário, as chances das crianças se envolverem em acidentes com fogo são elevadas.

As queimaduras com álcool, quando acontecem com as crianças, costumam ser graves e necessitam de intervenção médica para o tratamento e, em algumas situações, a vítima pode até morrer. Esse tipo de acidente pode causar dor e sofrimento intensos de ordem física e emocional.
Além de deixar muitas cicatrizes e marcas para toda a vida.

Com a pandemia do Coronavírus, os leitos hospitalares brasileiros estão lotados de pessoas contaminadas com COVID-19. Caso a criança acidentada precise ser internada, as chances dela ou de seus responsáveis e familiares se contaminarem são altas.

Além disso, o tratamento de pessoas queimadas é longo, caro e doloroso. Em decorrência dos agravos físicos desse tipo de lesão, as vítimas se tornam imunodeprimidas. Ou seja, ficam ainda mais vulneráveis no contexto de pandemia que estamos vivendo.

A venda indiscriminada do álcool etílico 70° não vai contribuir com a diminuição da disseminação do vírus, já que existem outras medidas mais eficazes e seguras. “Se as mãos forem lavadas corretamente com água e sabão, não há necessidade de uso de álcool etílico 70° dentro de casa”, reforça o Prof. Dr. em Biomedicina, Arlei Marcili.

Diante disso, nossas recomendações para mantermos meninos e meninas seguros nesse período são:
– Permaneça em casa o máximo possível;
– Ensine as crianças a lavarem bem as mãos, com água e sabão, de forma adequada;
– Não deixe fósforos, isqueiros e outras fontes de calor e energia ao alcance das crianças;
– Caso tenha álcool em gel em casa, deixá-lo fora do alcance de crianças, assim como devem ficar todos os produtos de limpeza da casa. E depois de manuseá-lo, não ter contato com fontes de chamas como do fogão e isqueiros, por exemplo;
– O uso do álcool em gel só é necessário quando não há a possibilidade de lavar as mãos, como quando se está na rua. Vale lembrar que ele também é inflamável e, apesar de sua composição física ter sido planejada para evitar a propagação do fogo, é necessário cuidado ao manuseá-lo. Além disso, em caso de ingestão do álcool em gel ou do líquido, os danos à saúde da criança são os mesmos. Podendo levar até a um coma alcoólico;
– Não compre o álcool líquido 70°, mas caso seu uso seja imprescindível em casa, ele deve ser guardado em frascos menores e armazenado em local alto e fora do alcance das crianças.

Estamos passando por um momento delicado, em que devemos tomar atitudes pensando no bem de todos. Com essas ações, conseguimos juntos cuidar das nossas crianças e prevenir que os acidentes aconteçam.